Heart Beat | Cinema, Arte e Rock’n’Roll com Zé Pedro, Anne Teresa De Keersmaeker, Bill Wyman, entre outros
A música, a dança, o cinema, as artes visuais, as artes performativas, a literatura: o universo artístico reina no Heart Beat. Na 17ª edição do Doclisboa, esta secção da programação do festival, dedicada à mostra cinematográfica das mais variadas vertentes artísticas, conta mais uma vez com um espólio de registos cinematográficos de diversas regiões e de diversas expressões, com um ênfase particular, este ano, no universo musical.
O Doclisboa apresenta Zé Pedro Rock’n’Roll, realizado por Diogo Varela Silva, em estreia Mundial: um filme sobre Zé Pedro, lendário guitarrista dos Xutos e Pontapés e uma das principais figuras do rock’n’roll português. O filme de Diogo Varela Silva utiliza arquivos tanto públicos, como pessoais para ilustrar a história de Zé Pedro, a história dos Xutos, e a própria história do rock em Portugal. Uma história marcada pelos Xutos e Pontapés e por Zé Pedro, cuja influência no mundo da música portuguesa é incontornável e que se torna, assim, eternizada no mundo do cinema.
Do rock português até ao rock britânico: do Reino Unido, o Doclisboa apresenta The Quiet One, um filme sobre a vida e carreira de Bill Wyman, membro fundador dos Rolling Stones, que nos mostra materiais e registos inéditos dos primeiros momentos filmados dos jovens Rolling Stones; e The Cavern Club: The Beat Goes On, realizado por Christian Francis-Daives e Jon Keats, sobre a história e o renascimento (e a reconstrução) do Cavern Club, o auto-proclamado “melhor clube do mundo”, onde os Beatles tocaram 292 vezes e que, nos dias de hoje, recebe artistas como Arctic Monkeys e Adele.
O rock no feminino (e em francês): Oh Les Filles!, realizado por François Armanet, mostra-nos a história das estrelas rock francesas, desde Françoise Hardy a Christine & The Queens, Charlotte Gainsbourg, Vanessa Paradis, entre outras. De França, o Doclisboa apresenta igualmente Daniel Darc, Pieces of My Life, um filme realizado por Thierry Villeneuve e Marc Dufaud, sobre o vocalista dos Taxi Girl (banda de culto dos anos 80), que nos mostra a sua forma de viver, através de imagens inéditas e íntimas filmadas durante 25 anos.
Viajando por continentes, o festival recebe a Estreia Internacional de Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos, realizado por Daniela Broitman. Um filme intimista, que tem como base uma entrevista inédita com Dorival Caymmi, tal como testemunhos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e artistas que admiravam a música de Caymmi, posicionando-o como um dos músicos baianos mais importantes. Uma viagem pelo universo do cantor e compositor que revolucionou a música brasileira e influenciou uma geração de músicos.
Everybody’s Everything, realizado por Sebastian Jones e Ramez Silyan, é um retrato íntimo e humanista de Lil Peep, que criou e que trouxe ao mundo musical mainstream uma mistura única entre o punk, o emo e o trap. Uma ascendência meteórica mas breve ao estrelato, com o falecimento do artista por overdose, com apenas 21 anos.
O som, a experimentação, a materialidade sónica: o Doclisboa apresenta, em Estreia Mundial, The Bridge, de Paulo Raposo. Um filme que retrata um grupo de artistas sonoros que se propôs à criação de uma intervenção sonora numa pequena ponte sobre o rio Andelle (Normandia). Também em Estreia Mundial, Zé G. Pires apresenta Ensaio de Amor, um registo do percurso dos ensaios ao palco dos actores do Grupo Crinabel, numa adaptação teatral de Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai, de Gonçalo M. Tavares: uma história em que a Trissomia 21, que caracteriza a personagem Hanna, nos é dada a sentir como um plus e em que esta diferença é descrita como um suplemento. De Portugal, o Doclisboa apresenta igualmente The Sound of Masks, de Sara Gouveia. Um filme guiado por Atanásio Nyusi, numa viagem que cruza o passado colonial de Moçambique com o presente do país e que nos apresenta a dança mapico, um antigo instrumento de crítica social e de desafio ao regime colonial, que ressurge, nos dias de hoje, enquanto forma de celebração de liberdade, de identidade cultural e de memória colectiva.
O Heart Beat apresenta também uma sessão especial cine-concerto, começando com a exibição do filme Mistérios Negros, de Pedro Lino, musicada ao vivo pelo compositor Philippe Lenzini. As imagens encenam uma viagem ao centro da terra, em sentido figurado e literal, tendo como veículo a paisagem dos Açores. Segue-se depois a Cine performance documental O intendente é um lugar psicológico, em que Tiago Pereira filma e conceptualiza, e Sílvio Rosado compõe e toca. Esta cine-performance trará memórias a palco, a vivo. Mistura-as e dá-lhe sons e música. O Bairro que não é bairro, mas que é corpo, cada braço uma artéria, as pernas etnias, misturas. A dança daquilo que ainda resiste.
Da música, do som, da dança até ao mundo do cinema: o último filme de Abel Ferrara, The Projectionist, tem estreia nacional no Doclisboa. Um documentário sobre a vida e carreira de Nicolas Nick Nicolaou, amigo do realizador que se tornou um dos últimos proprietários de cinemas independentes em Nova Iorque. Em Estreia Internacional, o Doclisboa apresenta Banquete Coutinho, de Josafá Veloso. Um olhar sobre a obra de Eduardo Coutinho, a partir de um encontro filmado com o realizador em 2012 e de um vasto material de arquivo. Um filme que mantém acesas as inquietações do cineasta, que faleceu dois anos após a entrevista, mas cuja obra e pensamento resistem ao tempo. Forman vs Forman é um registo de colagem de arquivos particulares e oficiais raros do realizador multi-galardoado Miloš Forman, desde os seus primeiros passos no mundo do cinema, enquanto um dos impulsionadores da New Wave Checa, até à sua vida e carreira nos Estados Unidos. Um filme realizador por Helena Třeštíková e Jakub Hejna, e narrado por Petr Forman, filho do realizador. Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos, Delphine and Carole. Um documentário realizado por Callisto Mc Nulty, que ilustra o encontro entre a actriz e a video artist, que destaca o seu papel, a sua influência e o seu trabalho com o movimento feminista dos anos 70. Talking About Trees, de Suhaib Gasmelbari, mostra-nos o encontro de quatro amigos cineastas, que, após anos de distância e exílio, se reúnem para voltar a um antigo sonho: tornar realidade o cinema no Sudão.
A arte da crítica de Pauline Kael (What She Said: The Art of Pauline Kael, de Rob Garver); o retrato da cena cultural alternativa pós-1989 em Mitte, no Centro de Berlim (Gestern Mitte Morgen, de Peter Zach); a performatividade, a poesia e o activismo de Pedro Lemebel(Lemebel, de Joanna Reposi Garibaldi); a dança, a coreografia, os ensaios de Anne Teresa De Keersmaeker (Mitten, de Olivia Rochette e Gerard-Jan Claes); a experimentação electrónica de Felix Kubin (Felix in Wonderland, de Marie Losier); e a cultura consumista no rescaldo da dissolução da União Soviética (30HA, de Clayton Vomero) são as últimas peças que compõem a programação da secção Heart Beat, para além da sessão já anunciada do filme Rétrospective, de Jérôme Bel.