Retrospectiva Jocelyne Saab
A figura de Jocelyne Saab e o seu cinema são inclassificáveis. Começa a sua carreira como jornalista e repórter de guerra e, em 1975, realiza a sua primeira longa-metragem documental: Lebanon in a Whirlwind. O Líbano, onde Jocelyne Saab nasce, em Beirute, em 1948, é o centro a partir do qual se desencadeia um mapa cinematográfico composto por um conjunto de cerca de trinta documentários, “filmes de ficção”, sempre surpreendentes, retratos e fotografias, instalações e exposições. Um mapa cinematográfico que se torna geográfico, orientado para o Mediterrâneo, mas também para Leste, para o Médio Oriente, até chegar ao Extremo Oriente, não deixando esquecer a localização asiática daquele Líbano cosmopolita e aberto que a guerra civil tentou fechar, num multiplicar de muros.
A Leader Is Born: Muammar Gaddafi
O primeiro passo com uma câmara: Jocelyne Saab é enviada para documentar a Marcha Verde de Kadhafi sobre o Egipto. Obtém rapidamente uma autorização para fazer um retrato do estadista, que a leva a conhecer a família numa aldeia
beduína na Líbia. O raro documento abre‑lhe as portas.
Middle East Report 1
Dá‑se o nascimento de Jocelyne Saab enquanto jornalista de rádio e televisão e, após o sucesso da experiência na Líbia, pode ir para o braseiro do Médio Oriente. As suas reportagens a partir de Israel, dos montes Golã, Egipto e Iraque, ainda que breves, são contributos preciosos para compreender a contemporaneidade.
MIDDLE EAST REPORT 2
O mapeamento obstinado e categórico do Médio Oriente por parte de Jocelyne Saab procura finalmente descrever o seu país sem paz: o Líbano. Com Children of War, em particular, dá‑nos um bom exemplo daquilo em que o seu cinema se está a tornar: não mera reportagem, não mero documentário, não apenas encenação e não uma simples mistura de tudo isto, mas uma composição de todas estas dimensões, “esperando” que se sucedam diante da câmara.
Sessão de Abertura
MY NAME IS JOCELYNE SAAB OR PALESTINE, DÉFENSE D’ENTRER
O cerne deste programa são os filmes que Jocelyne Saab rodou na Palestina, o braseiro negro da Europa do pós‑Segunda Guerra Mundial, onde não é suposto entrarmos, como disse Godard, em Film Socialisme. Mas Saab fê‑lo com a sua capacidade nómada, livre e surrealista de filmar. A sessão abre com o seu último filme, retrato de Mei Shigenobu, filha da fundadora do Exército Vermelho Japonês em Beirute, Fusako Shigenobu: uma figura nómada da alma.
LETTERS FROM UTOPIA
Da Beirute destruída pela guerra civil ao Irão que passou por uma revolução e acordou numa República Islâmica, Jocelyne Saab e a sua câmara conseguem surpreender‑nos com alguns pontos de vista inesperados, onde a utopia ainda consegue viver.
A SUSPENDED CITY
Beirute é a terra natal de Jocelyne Saab e símbolo de um Médio Oriente fragmentado pelos restos da história colonial. Em 1982, teve lugar o “Cerco de Beirute” e os massacres de Sabra e Shatila. Os libaneses estão reféns na sua cidade, mas, logo no ano seguinte, Saab consegue rodar uma história de amor na “paisagem natural” de uma cidade em guerra.
WALK LIKE AN EGYPTIAN
“Nos anos 1960 e 70, o Egipto estava no centro do mundo árabe. Em 1973, cobri a Guerra de Outubro. No seguimento desta, conheci vários membros da esquerda egípcia e mantive‑me em contacto. Estava interessada no sentimento nacionalista e na reflexão sobre a nação e dialoguei com homens como Mohamed Sid Ahmed com um verdadeiro pensamento político sobre o anti‑imperialismo e a vontade do povo egípcio de viver livremente sem interferência externa.”
— Jocelyne Saab
LIVES THAT MATTER
Raymond Eddé, candidato às eleições presidenciais no Líbano; Jocelyne Khoueiry, a musa da milícia falangista em Beirute; e a Dra. Hoa, uma mulher extraordinária que foi ministra no governo revolucionário do Vietname do Sul. Três vidas, três batalhas, três retratos duros, mas cheios de amor.
CROSSING THE GENRES
Em quase todos os filmes realizados por Jocelyne Saab, há uma subversão constante do sentido comum no que diz respeito aos géneros cinematográficos e à ideia estabelecida do que é masculino e feminino. Os três filmes que compõem esta sessão são uma espécie de viagem explícita por essa subversão.