Passagens

Secção que surge da convergência de dois movimentos recentes: a passagem do filme para os museus e a inclusão do documentário na arte contemporânea. Passagens tenta reflectir uma diversidade e complexidade que redesenhou a prática do documentário, abrindo as suas perspectivas, mas questionando, ao mesmo tempo, categorias e disciplinas dentro das artes visuais.

Terceiro Andar
Third Floor

Luciana Fina
Portugal

2016 | Vídeo | 2 ecrãs | Projecção contínua | HD, DV | Cor | Som | 27’
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Em que língua vamos contar as histórias que nos foram contadas? Em que língua escrever uma declaração de amor?

«Lisboa, Bairro das Colónias, terceiro andar. Transmitindo e traduzindo o cruzar sensível de diversos universos, Fatumata e Aissato dialogam sobre o amor e a construção da felicidade. Narrativas e línguas adquiridas em etapas da vida e lugares distintos foram determinando os seus sentimentos. Pelas 19 horas, do terceiro até ao meu quinto andar, ressoa pelo prédio um som regular, sempre igual, como o bater do coração.» (Luciana Fina)

«Um prédio no Bairro das Colónias em Lisboa, uma mãe e uma filha, as raízes aéreas de uma planta tropical que, do piso superior, atravessam o vão das escadas do edifício. As raízes são a malha vertical que, coadjuvada pela horizontalidade dos dois ecrãs de Luciana Fina, tece uma preciosa narrativa que conta de gerações, culturas, línguas, de relações e de afectos. Fatumata e Aissato são a mãe e a filha mais velha de uma família numerosa originária da Guiné-Bissau. Fatumata e Aissato falam, dialogam; a filha traduz a língua da mãe e ao traduzir, interpreta discursos de amor e felicidade. As raízes do quinto andar onde vive Luciana descem ao terceiro andar de Fatumata e Aissato, invadem o espaço de exposição e espalham-se como rizomas, encontrando correspondências e ligações que atravessam todo o festival.» (Davide Oberto)

TERCEIRO ANDAR | Díptico, projeção contínua, 27’

21 de outubro de 2016 – 23 de janeiro de 2017

Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna

Entrada livre (requer levantamento de bilhete)

O díptico convida o espectador para o espaço da palavra e do diálogo entre a mãe e a filha primogénita de uma família numerosa originária da Guiné-Bissau, e para o espaço sonoro e plástico do prédio onde esta família e a cineasta habitam. No suceder-se de um poema, de um conto, de uma carta e uma reza, as palavras transitam de uma língua para a outra, de uma detentora para a outra, criando ligações. O som sobe as escadas e os patamares, atravessa as paredes, as portas e os corredores, ocupa as casas e as varandas, percorre o prédio em toda a sua complexidade e permeabilidade.

Com a dupla projeção de Terceiro Andar, migrando para o espaço de exposição, Luciana Fina ensaia mais um gesto cinematográfico que interroga as formas narrativas e a matéria do cinema.

Uma instalação de Luciana Fina; com Fatumata Baldé e Aissato Baldé; Imagem: Helena Inverno, Rui Xavier; Som: Olivier Blanc, Miguel Cabral; Montagem: Luciana Fina; Desenho Maquinaria: Marcello Urgeghe; Colorista: Marco Amaral; Mistura de som: Tiago Matos; Assistente: Rui Silveira; Apoio à produção: BEST Patrícia Faria; Assessoria de gestão: Paula Varanda; Assistente de produção e gestão: Elsa Sertório; Produção: LAFstudio; Produtor associado: TERRATREME; Apoio: Fidelidade Property | Balleteatro; Apoio equipamentos: Ricochete Filmes | Screen Miguel Nabinho | Cineset; Projeto financiado por DGARTES Governo de Portugal | CML Câmara Municipal de Lisboa.

Agradecimentos: Manso Baldé e família Baldé, inquilinos e vizinhos do prédio, Ana Fontoura, Anil Jaintilal, Carla Bolito, Cristina Fina, Entre Imagem, Espaço Mira, Filipe Pereira, João Ribeiro, Karyna Gomes, Lidia Apa, Luísa Homem, Miguel Nabinho, Odete Semedo.

LUCIANA FINA | notas biográficas

Trabalha em Lisboa desde 1991. Após uma longa colaboração com a Cinemateca Portuguesa como programadora independente, estreia-se no cinema em 1998. Desde então, tem desenvolvido um trabalho que migra frequentemente da sala cinematográfica para o espaço de exposição, investigando as possibilidades e as hipóteses do Cinema no campo das Artes. A partir de 2003, cria a série de retratos fílmicos reunidos no projeto O Tempo de um Retrato. Tem apresentado internacionalmente o seu trabalho em festivais e exposições. O seu mais recente documentário, In Medias Res, recebeu uma Menção Honrosa do Temps d’Images Film on Art Award e o Prémio Melhor Filme Nacional do Arquiteturas Film Festival.

Filmografia

2013In Medias Res (doc, 72’) PT; 2009/2012: Portraire (filme ensaio) PT; 2006: Le Réseau (doc, 68’) FR/PT; 2004: O Encontro (doc, 61’) PT; 2003: Taraf, três contos e uma balada (doc, 42’) PT; 2001: 24h e Outra Terra (doc, 45’) PT; 1999: Jérôme Bel, le film (55’) FR; 1998: A Audiência (doc, 76’) PT

Instalações

2016: Terceiro Andar (díptico); 2014: Être Ici (site specific); 2014: A Casa e o Tempo (site specific); 2001/2010: CCM (CCTV posto 1 – 7); 2009: HORS SUJET portrait (díptico); 2009: VUE portraits (tríptico); 2005: REFLECTION portrait (díptico); 2004: MOUVEMENT portrait (díptico); 2003: CHANT portraits (tríptico)

A propósito
Filmes de Correspondência – Missivas, Distâncias, Deslocações